Emily em Paris e os estereótipos franceses

Faz muito tempo que não escrevo nesse blog, uns dois anos mais ou menos, mas resolvi voltar para comentar sobre a nova série da Netflix, Emily em Paris. Assim que eles divulgaram o teaser, fiquei ansiosa para a chegada de outubro para assistir essa série que algumas pessoas descreveram como a nova “Gossip Girl mais leve e adulta”. Quando eu era adolescente, era mega fã de GG, e juntando ao fato de que sou apaixonada por moda, moro em Paris e adoro ver qualquer coisa que tenha sido filmado na cidade, parecia a série perfeita para mim.

Aí chegou o dia da estreia. Eu maratonei a temporada inteira em um dia. Com apenas dez episódios de menos de 30 minutos, não é uma tarefa assim tão difícil. Mas, sinceramente, não sei dizer se gostei ou não da série. Com toda certeza, ela é um daqueles programas bem leves para ver num fim de semana que você só quer descansar e não quer pensar muito. Mas a história é tão cheia de clichês e estereótipos parisienses que chega a ser cansativo. Não sei se é porque moro na França há dois anos e já estou acostumada com a cultura francesa ou se é porque a série realmente exagerou e forçou um pouco a barra no quesito estereótipo. Esses clichês já conhecidos sempre me fazem revirar o olho quando vejo algum turista/Instagramer tirando foto de boina vermelha na frente da torre, e isso foi o que mais teve em todos os episódios.

A começar pelos looks da personagem principal. São looks cheios de informação, estampas e cores, tudo o que os franceses não usam. Nenhum parisiense se veste dessa forma. Os franceses são extremamente básicos e sempre optam por looks nas cores mais básicas e sem estampa. E se alguém está andando na rua vestida nessa vibe da Emily, todo mundo olha e pensa “alá, turista”, porque eles realmente não se vestem dessa forma.

Outra coisa que a série fala muito é sobre sexismo. Aí é um ponto delicado. Eles tocam muito na tecla de que franceses são super sexistas, e objetificam a mulher o tempo todo, e isso não é nem um pouco verdade. Ok, como em qualquer país do mundo, sempre tem alguns que fazem isso, mas no geral, eles são bem menos sexistas e machistas que no Brasil, por exemplo. Acredito que até menos que nos EUA. Ainda existem algumas coisinhas que eles podem mudar para deixar tudo ainda mais igual, mas são coisas intrínsecas na cultura do mundo todo. Vou dar um exemplo para ficar mais claro. Aqui, se você é mulher e vai num restaurante com um amigo homem, o garçon sempre vai entregar a conta para o homem, nunca para a mulher. Isso é o resultado da ideia de cavalheirismo. O problema é que a ideia do cavalheirismo é meio machista. Por que os homens têm que fazer algo pelas mulheres? Por que eles têm que pagar a conta e os dois não podem dividir? Mas esse tipo de coisa é intrínseco da sociedade no geral. Talvez você mesmo esteja lendo esse texto agora e pensando “o homem tem que fazer isso, sim, para ser cavalheiro, não tem nada de machismo”, e tudo bem, foi só um exemplo do que pode ser considerado sexista na França. Mas fora esse tipo de comportamento, os homens franceses não são nada sexistas ou machistas. A igualdade de gênero aqui é incrível. Inclusive, foi uma das primeiras coisas que eu reparei assim que cheguei. A mulher faz absolutamente tudo que o homem faz e vice-versa. Já vi, muitas vezes, um casal que a mulher pegava as ferramentas e ia consertar a pia quebrada enquanto o marido estava cozinhando e brincando com as crianças. Para a mentalidade brasileira, por exemplo, isso pode parecer meio estranho, absurdo até, mas aqui é extremamente comum. Por isso não entendi essa forçação de barra para mostrar a sociedade francesa como sexista.

O cliente da Emily dar uma lingerie de presente para ela também é algo que nunca vai acontecer aqui. Justamente porque eles são super respeitosos e não machistas, isso é inimaginável, da mesma forma que um cara te abordar num café e ir para sua casa. Tudo bem, isso a gente pode até deixar passar porque é para dar um romantismo na série. Mas é bom vocês saberem que isso não acontece, tá meninas?

Agora, o que foi mais criticado por todo mundo aqui na França foi a história de que ela, uma norte-americana, vem para a França sem falar um A de francês e quer impor sua “visão americana” a uma empresa francesa. Os críticos acharam isso totalmente absurdo (e eu concordo) que alguém seja arrogante ao ponto de chegar impondo coisas da sua cultura numa empresa de outra cultura e de um outro país onde ela não consegue nem se comunicar na língua local.

No final das contas, a gente vê que a série tem vários problemas. Eles nem mostram a Paris de verdade. Mostram apenas o clichê parisiense (Torre Eiffel, Arco do Triunfo, Sacré Coeur). Faltou mostrar a Paris de verdade, os mercados de rua, a arte em cada esquina, a história, a verdadeira cultura francesa, sem clichês, (sim, eles tomam banho e lavam a panela), o verdadeiro estilo francês, onde a moda de rua é uma inspiração para quem gosta de brincar com roupas. Eu entendo que talvez tenha sido uma opção mostrar os clichês para condená-los, mas se essa foi a ideia, foi bem mal executada porque só pareceu que o roteirista nunca veio à Paris e se baseou em fotos da internet e filmes dos anos 90/00.

Se vocês se interessam por Paris e querem ver uma série super legal que se passa aqui e mostra a vida parisiense de verdade e de uma forma divertida e cheia de romance, indico a série Amor Ocasional, da Netflix. Se quiserem, também posso fazer uma resenha sobre.

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